quarta-feira, 26 de maio de 2010

Uma flor do campo

" Vamos nos falar pelo skype..." Foi umas das frases que ela me disse em meio à lágrimas quando nos despedimos em janeiro, no último domingo antes de minha partida para Genebra. Havíamos passado a tarde de domingo no futebol, tomando um gostoso chimarrão, como sempre amamos fazer e como há tempo não havíamos feito.
Hoje foi realmente um dia muito difícil para mim. Chegando em casa da aula o meu telefone toca: ligação do Brasil? Eu já sabia o que deveria ser, mas realmente não queria acreditar. Meu irmão estava me ligando para me dar a notícia: minha amiga, prima, grande companheira de muitos momentos havia  falecido. A batalha foi perdida!
Angélica foi como uma flor do campo, que veio, desabrochou, trouxe alegria para muita gente que conviveu com ela durante estes 28 anos, realizou sonhos e partiu deixando um vazio nas nossas vidas. Batalhadora, lutadora, mulher forte. Desde 2007, quando descobriu um câncer no útero, em nenhum momento se quer demonstrou fraqueza ou se entregou. Passou por uma cirurgia de retirada do útero, sessões desgastantes de radio e quimioterapia. "Curou" o câncer durante dois anos e voltou a viver normalmente, com a alegria que nunca havia perdido. Porém, no desabrochar do ano de 2009 uma dor forte no braço trouxe a sentença: câncer nos ossos! Mesmo sabendo-se a gravidade, sempre tivemos toda a esperança de que fosse diferente, de que a força dela fosse capaz de mudar a sentença final. Novamente, sessões de radioterapia em Porto Alegre e a quimioterapia que acaba com a imunidade... 
Em consequência do tratamento contra o câncer, Angélica acabou ficando muito fraca e foi internada em 13 de outubro. Havia desenvolvido um problema na medula causada pelo tratamento da quimio, ainda no início. Agora era a falta de plaquetas que estava deixando minha amiga fraca, sem condições de caminhar, necessitando de  sangue e consequentemente sem possibilidade de seguir na quimioterapia. Enquanto isso, a alegria de viver era sempre irradiante, igual em cada um dos quase 75 dias no hospital. Cada dia em que ia visitá-la, ficavámos horas rindo e lembrando de histórias nossas, confidências que tínhamos ainda do tempo da escola.
Os dias de Natal foram em casa, para alegria da família. Nos meses seguintes a lut acontinuou, as dores eram fortes e inscessantes, mas a minha amiga estava lá, forte e sorridente, sonhadora, sempre! No dia de nossa despedida, antes da minha viagem, derramamos lágrimas abraçadas, lembrando e sonhando com o futuro. Mas parece que eu sabia que era realmente um adeus!
Em março deste ano, recebi um email do meu irmão dizendo que ela estava novamente hospitalizada e que havia descobrido que o câncer se espalhara e atingira inclusive a cabeça. A partir daí, foram momentos de altos e baixos. Ela sempre esperançosa, nunca se entregando a doença e, embora todos soubessem a gravidade da situação, um filete de esperança brotava toda vez que alguém falava com ela e a via com o mesmo brilho nos olhos, o mesmo  de sempre.
Angélica foi minha super amiga, uma companheira de trabalho, de escola, de festas. Não esquecerei do tempo de crianças quando ela se "emburrava" facilmente por algo feito diferente, das sopas que ela cozinhava, do nosso time de futebol que ela jogava e quem dos nossos amigos vai esquecer dos teatros, da peça do morto-vivo em que ela interpretava um cangaceiro de arma na mão, do jeito de dançar, do "trudilu bichinha" quando saia de moto pra casa depois da JE, do carreteiro que ela fazia nos bailes de nosso grupo de jovens, da força e iniciativa, da prontidão para o trabalho... Tantas lembranças, um vazio tão grande!
Tenho agora em meu telefone um contato que eu já não tenho mais como chamar... Tenho perguntas a fazer que só ela saberia responder... Tem histórias que só ela poderia me ajudar a contar... Tem risadas sobre fatos que só ela poderia sorrir comigo... Mas, essa querida flor do campo se foi para enfeitar outro jardim, e eu sei que lá também, ela continuará erradiando alegria. 

E a música que a gente sempre cantava...
"... eu não vou saber me acostumar, sem suas mãos pra me acalmar, sem teu olhar pra me entender, sem teu carinho, amiga, sem vc..."

3 comentários:

ELISABETE FERRO disse...

custa muito perder alguem proximo.tambem passei por isso.felizmente nos agarramos a ideia que agora ja nao sofrem.acabou-se o sofrimento deles,começa o nosso,mas finalmente estao com deus.eu costumo dizer que,eles eram precisos la em cima.força amiga,um abraço

Clovis Horst Lindner disse...

Daniele,
Eu não te conheço, nem conheci a sua amiga, mas quero compartilhar esta dor contigo. Esta dor doída, que queima o peito e machuca... esta dor que aperta, sufoca, faz brotar um vulcão de lágrimas... Esta dor de quem se atira no colo de Deus e pergunta: "Por quê?"... A dor que não se apaga, porque interrompe sonhos, projetos, histórias em comum. Que esta flor, que foi colhida do teu jardim da amizade para enfeitar a sala de
Deus, seja para sempre em ti uma referência, uma fonte de boas lembranças e um estímulo para nunca desistir de nada. Não perca a esperança, não se entregue, nem desanime. Angélica, a delicada flor do campo, continuará florescendo em teu coração de amizade eterna, como uma das melhores lembranças que Deus plantou no teu coração de jovem dinâmica e sonhadora. Vai em frente e Deus te console e acompanhe.
Um fraterno abraço,
Pastor Clovis

Clarissa Buttow disse...

Daniele,

Aqui é a Clarissa (do Morro Redondo - fomos juntas pro Congrenaje em Minas, lembra?)estava passeando pelo site da IECLB e te encontrei aqui ! Fiquei muito feliz por saber que estás em Genebra e muito feliz porque estamos tão bem representados !

Um grande abraço !

Clarissa