sexta-feira, 15 de abril de 2011

O que o jovem precisa para permanecer no campo?



No último sábado, 9 de abril, mais de 200 jovens agricultores familiares da região Sul do Rio Grande do Sul (RS) estiveram reunidos para um dia de debate sobre a sucessão no meio rural durante Seminário de Jovens da Agricultura Familiar da Região Sul do RS, organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (SINTRAF-Sul) em parceria com o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA) e a EMATER.
A partir da discussão sobre diferentes temas que afetam a vida do jovem rural, como cultura e lazer, geração de renda, educação do campo, meio ambiente e infraestrutura no meio rural, foi elaborada uma carta que apresenta as necessidades da juventude da agricultura familiar. O documento será encaminhada para o Poder Público chamando especial atenção para a falta de políticas públicas nessa área. Além disso, será entregue e discutido no 3º Acampamento da Juventude da Agricultura Familiar, que acontecerá nos dias 27 a 29 de abril de 2011, em Concórdia (SC).

CARTA ABERTA DOS JOVENS PARTICIPANTES DO SEMINÁRIO DE JOVENS DA AGRICULTURA FAMILIAR DA REGIÃO SUL DO RS À SOCIEDADE E ÀS AUTORIDADES 
Somos jovens agricultores ou filhos de agricultores, vindos de vários municípios da região, incluindo Dom Feliciano, Camaquã, Canguçu, Cristal, Pelotas, São Lourenço do Sul e Turuçu, participantes do Seminário de Jovens da Agricultura Familiar da região Sul do estado RS, que aconteceu dia 09 de abril de 2011, na cidade de São Lourenço do Sul/RS, organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul – SINTRAF-SUL, com apoio do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor – CAPA, EMATER, UNAIC e CRESOL. 

Como representantes da juventude da agricultura familiar, reconhecemos a importância da agricultura familiar como geradora de alimentos, emprego e renda no país. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário, 70% do total de alimentos produzidos no Brasil provém da agricultura familiar. Reconhecemos também que há um abandono crescente do campo, principalmente pela juventude, que tem abandonado a zona rural em busca de novas oportunidades. A cidade é atraente pelas suas opções de lazer, por concentrar as universidades e instituições de ensino, por oferecer acesso a atividades culturais, entre outros fatores relevantes que fazem com que o jovem idealize uma vida longe do rural. 
Além disso, os jovens que vivem no campo muitas vezes são estimulados a estudar para “ir em busca de uma vida melhor”, idéia que é reforçada pela escola, pela mídia e pela sociedade em geral. 

Durante nosso seminário, discutimos que é preciso garantir condições para que os jovens não tenham o êxodo como única alternativa e possam optar por permanecer e viver bem no campo. Acreditamos que a sucessão das propriedades de agricultura familiar depende de diversos fatores que englobam, entre outros, o acesso do jovem a: i) Cultura e Lazer, ii) Geração de Renda, iii) Educação do Campo, iiii) Meio Ambiente, v) Infraestrutura no meio rural. 


Cultura e Lazer: 
• Programa para que todas as propriedades tenham acesso à internet de boa qualidade e a custo baixo; 
• Pólos de cultura nas comunidades com cinema, bibliotecas públicas e outros; 
• Infra estrutura para lazer e esporte, como ginásios, materiais esportivos e outros; 
• Cursos de informática e outros cursos nas comunidades. 

Geração de Renda 
• Políticas de comercialização com participação para Jovens nos programas PAA e alimentação escolar; 
• Ponto de distribuição dos produtos produzidos pela Agricultura Familiar; 
• Bolsa salário para jovens que permanecem no campo; 
• Credito fundiário com juros zero; 
• Feiras de venda direta aos consumidores. 

Educação no Campo 
• Falta de educação que incentivo na permanência no campo com práticas voltadas para a realidade rural; 
• Motivação para a perspectiva de vida no campo; 
• Inclusão digital com a utilização dos laboratórios no turno de estudo; 
• Adequação curricular, disciplinas voltadas para o cotidiano do interior; 
• Falta integração interdisciplinar, desvinculação entre as disciplinas com a realidade; 
• Seminários voltados para o próprio ambiente escolar; 
• Transporte para ensino médio e com período noturnos no interior; 
• Falta de infra nas escolas; 
• Espaço de participação nas escolas, participar do planejamento da escola; 
• Criação de Grêmio Estudantil; 
• Abrir espaço nas escolas para demonstrar produtos produzidos pela Agricultura Familiar; 
• Escola aberta para o lazer, cultura e outras modalidades de ensino, como por exemplo, o EJA; 
• Educação inclusiva nas escolas do interior; 
• Formação continuada dos professores voltada para educação no campo. 

“A educação pode não transformar o mundo, mas ajudara a transformar as pessoas” Paulo Freire 

Meio Ambiente • Recolhimento de lixo no interior, com separação do lixo reciclável, uma vez por semana; 
• Utilização de produtos orgânicos; 
• Valorizar das culturas tradicionais da Agricultura Familiar, como por exemplo, as sementes crioulas; 
• Incentivo financeiro para os Agricultores Familiares que preservam o meio ambiente; 
• Criação de programa de arborização nas propriedades que estão assoreadas; 


Infraestrutura no Meio Rural • Assistência técnica voltada para as realidades locais; 
• Credito diferenciado para os jovens voltado a produção de alimentos; 
• Estradas do interior em condições para o escoamento da produção

Os jovens representam o potencial mais importante de mudança na sociedade. Acreditamos que a sucessão das propriedades familiares, bem como a preocupação com o êxodo rural deva ser de interesse não apenas dos jovens, como também das organizações da sociedade, dos governantes do nosso país, estado e prefeituras, das atuais gerações de lideranças políticas e comunitárias, enfim, de todos os setores da sociedade. Assinam este documento os 203 jovens agricultores familiares presentes no Seminário de Jovens da Agricultura Familiar da Região Sul do Estado do Rio Grande do Sul.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O jovem e a sucessão da agricultura familiar


A agricultura familiar brasileira é patrimônio do país, e assim deve ser concebida e valorizada. Pelo seu papel estratégico de garantia na produção de alimentos e outros produtos, da ocupação do território, preservação da agrobiodiversidade, da valorização da cultura local, preservação da paisagem, da descentralização industrial, entre outros aspectos. A agricultura familiar é multifuncional, prestando um conjunto de serviços ao país, devendo ter tratamento diferenciado. Mas para continuar a existir é preciso ter pessoas trabalhando nestas propriedades. E quem vai dar sequência à produção de alimentos se os jovens, sem oportunidades ou perspectivas, estão abandonando cada vez mais cedo as propriedades indo em busca de uma "vida mais fácil" nas cidades?
É neste sentido que o Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul – SINTRAF-SUL em parceria com o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor – CAPA e a EMATER estão organizando o Seminário de Jovens da Agricultura Familiar da Região Sul do RS, que estará sendo realizado no dia 09 de abril em São Lourenço do Sul.
A partir da discussão sobre diferentes temas que afetam a vida do jovem rural, como Cultura e Lazer, Geração de Renda, Educação do Campo, Meio Ambiente e Infra-estrutura no Meio Rural, os jovens estarão discutindo porqê o jovem, filho de agricultores familiares, abandona a vida rural e quais as perspectivas de mudança deste cenário. Cerca de 200 jovens são esperados para um dia de debate em torno da sucessão na agricultura familiar. 

Venha e junte-se a este debate você também.